Este guia foi elaborado, a partir de várias
publicações, pelo Dr. Sérgio Antônio Antoniuk, neuropediatra, e Helena
da Silva Prado, psicóloga, com a intenção de fornecer informações a
médicos, psicólogos, enfermeiros e outros profissionais que desejam
possuir um maior conhecimento da “Síndrome de Tourette”.
ASTOC, 2014 http://www.astoc.org.br
ASTOC, 2014 http://www.astoc.org.br
Definição da Síndrome de Tourette - ST
A Síndrome de Tourette (ST) é um transtorno
neuropsiquiátrico de curso crônico, cíclico e caracterizado pela
presença de tiques motores e vocais, tendo sua
idade de início geralmente na infância ou antes dos 18 anos, que causam
limitação significativa ao funcionamento social ou ocupacional do
paciente. No início apresenta crises passageiras de tiques motores
simples como, por exemplo, piscar os olhos. À medida que a síndrome se
desenvolve, instalam-se tiques motores complexos e, posteriormente,
tiques fônicos simples ou complexos, como grunhidos, pigarros e
expressões silábicas, entre outros.
- Definição de Tique Motor
Tique motor tem início geralmente na infância e é
caracterizado por contrações, abalos rápidos ou movimentos, tais como,
piscar de olhos ou abalos rápidos da cabeça de um lado para o outro.
Ocorrem em ataques durante o dia, apresentando piora durante os
períodos de cansaço e/ou estresse. Vários tiques ocorrem sem alarme e
podem não ser percebidos pela pessoa que os tem. Outros são precedidos
por uma súbita sensação ou vivência de desconforto, de difícil
descrição (alguns se assemelham a uma necessidade de coçar). Em vários
casos é possível suprimir os tiques, voluntariamente, por breves
períodos de tempo. Embora qualquer parte do corpo possa estar afetada,
as áreas mais comuns são face, pescoço e ombros. Durante semanas ou
meses os tiques motores aumentam ou diminuem e os tiques antigos podem
ser substituídos por outros totalmente novos. Alguns tiques podem ser
complexos, tais como, fazer uma expressão facial ou um movimento de
encolher os ombros (como se expressasse dúvida), que poderia ser mal
entendido pelos outros (isto é: como se a pessoa estivesse dizendo "eu
não sei"). Tiques complexos podem ser difíceis de serem diferenciados
das compulsões, embora não seja freqüente a presença de tiques
complexos sem a presença de tiques simples.
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Tiques Motores Simples: qualquer movimento rápido, breve e sem sentido que ocorra em ataques como um excessivo piscar de olhos ou olhar de soslaio.
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Tiques Motores Complexos: qualquer movimento rápido, estereotipado (isto é: sempre feito da mesma maneira), semi-intencional (isto é: o movimento pode parecer um ato expressivo, porém, às vezes, pode não estar relacionado com o que está ocorrendo no momento, por exemplo: dar de ombros sem contexto para isso), que envolve mais do que um agrupamento muscular. Existe a possibilidade de haver múltiplos movimentos, como caretas juntamente com movimentos corporais e vocais.
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Definição de Tiques Fônicos
Tiques fônicos começam, geralmente, após o início
dos tiques motores, embora possam ser os primeiros tipos de tiques.
Eles são caracterizados por súbita emissão de sons, como pigarrear ou
fungar. Os mesmos tiques parecem ocorrer em ataques durante o dia,
apresentando piora durante os períodos de fadiga e/ou estresse. Vários
tiques ocorrem sem aviso prévio e podem não ser percebidos pela pessoa
que os faz. Outros são precedidos por uma sensação, desconforto ou
incômodo, de difícil descrição (como um formigamento). Em vários casos é
possível evitar ou adiar os tiques por breves períodos de tempo.
Durante semanas ou meses, os tiques fônicos podem aumentar ou diminuir e
os antigos podem ser substituídos por outros totalmente novos. Alguns
podem ser complexos, tais como a emissão de obscenidades (coprolalia)
ou a repetição do que outra pessoa disse (ecolalia).
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Tiques vocais simples: sons e ruídos sem significados.
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Tiques vocais complexos: emissão de palavras ou frases, repetitivas, sem sentido ou de afirmações que estão fora de contexto, sendo que a recorrência pode ser voluntariamente suprimida apenas por curtos períodos de tempo.
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Critérios Diagnósticos
Até o momento não existe nenhum exame
laboratorial ou radiológico que seja patognomônico da doença, sendo o
diagnóstico firmado pelas características clínicas e evolução do
quadro, mais precisamente pela duração de tiques motores e vocais
(Tabela 1)
Tabela 1 - Critérios Diagnósticos para Síndrome de Tourette- DSM-IV
A) Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques
vocais estiverem presentes em algum momento durante a doença, embora
não necessariamente ao mesmo tempo. (Um tique é um movimento ou vocalização súbita, rápida, recorrente, não rítmica e estereotipada.)
B) Os tiques ocorrem muitas vezes ao dia
(geralmente em ataques), quase todos os dias ou intermitentemente
durante um período de mais de um ano, sendo que durante este período
jamais houve uma fase livre de tiques superior a três meses
consecutivos.
C) A perturbação causa acentuado sofrimento ou
prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras
áreas importantes da vida do indivíduo.
D) O início dá-se antes dos 18 anos de idade.
E) A perturbação não se deve a efeitos
fisiológicos diretos de uma substância (p. ex.: estimulantes) ou a uma
condição médica geral (p. ex.: doença de Huntington ou encefalite
pós-viral).
Fenomenologia dos Tiques Motores simples e complexos
Movimento dos olhos:
Simples: piscar de olhos, ficar estrábico, uma rápida virada de olhos, rodar os olhos ou arregalar por breves minutos.
Complexo: expressão de olhar como de
surpresa, esquisito ou olhar para um lado por curto período de tempo,
como se escutasse um barulho.
Movimento de nariz, boca ou língua:
Simples: movimento brusco de nariz, morder a
língua, mastigar os lábios ou lamber os lábios, fazer beiço (esticar
os lábios), mostrar ou ranger os dentes.
Complexo: dilatar as narinas como se
cheirasse algo, sorrir ou outros gestos que envolvam a boca, realizando
expressões engraçadas ou colocar a língua para fora (protusão).
Movimentos ou abalos (sacudidelas) de cabeça:
Simples: tocar os ombros com o queixo ou levantar o queixo.
Complexo: arremessar a cabeça para trás, como se fosse tirar o cabelo dos olhos.
Encolher os ombros:
Simples: sacudir os ombros.
Complexo: encolher os ombros como se dissesse “eu não sei”.
Movimento de braços e mãos:
Simples: flexão ou extensão rápida dos braços, morder as unhas, cutucar com os dedos, estalar as juntas dos dedos.
Complexo: passar a mão no cabelo como se
fosse um estilo, tocar objetos ou outras pessoas, beliscar, contar com
os dedos sem finalidade ou tiques de escrita: como escrever por cima,
palavras ou letras, ou retroceder com o lápis enquanto escreve.
Movimento de pés, pernas e dedos dos pés:
Simples: chutar, saltitar, dobrar os
joelhos, flexionar ou estender os tornozelos, andar pesadamente ou
batendo os pés leve ou pesadamente.
Complexo: dar um passo para frente e dois para trás, dobrar o joelho profundamente, ficar de cócoras.
Movimentos abdominais / tronco, movimento da pélvis:
Tensionar o abdômen e/ou as nádegas.
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Outros tiques complexos
Tiques relacionados com comportamentos compulsivos (tocar, bater, arrumar, equilibrar, parear).
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Gestos obscenos ou rudes, como estender o dedo médio; posturas estranhas; dobrar ou girar, tal como dobrar-se sobre si mesmo; rodar ou girar; copropraxia (fazer gestos obscenos).
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Comportamentos de auto-agressão.
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Desinibição de comportamento.
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Fenomenologia dos Tiques Fônicos simples e complexos:
Simples: tossir, pigarrear, fungar,
assobiar, sons de pássaros e animais, ranger, grunhir, bufar, sons
silábicos tais como: “uh!”, “oh!”, “eee!”, “bu!”.
Complexo: “ô cara”, “cê sabe”, “cala boca”, “seu gordo!”, “tudo bem”, “que é isso?”.
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Atipicalidade de fala: ritmos incomuns, tom, pronúncia, altura e rapidez na fala.
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Coprolalia: palavras ou frases obscenas, agressivas ou outras inaceitáveis socialmente.
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Palilalia: repetição de palavra ou parte de palavras por si pronunciadas.
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Ecolalia: repetição de palavras ou parte de palavras pronunciadas por outros.
Outros Transtornos de Tiques
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Tiques Transitórios
Freqüentemente ocorrem nos pré-escolares e
atingem até 15% das crianças. Tiques comuns incluem piscadelas,
franzidos de nariz, caretas e estrabismo ou vesgueira. Vocalizações
ocasionais são menos comuns e incluem vários sons de garganta, zumbidos
e outros barulhos. Tiques infantis podem ser bizarros, como lambidas
nas palmas das mãos ou remexer e apertar os genitais. Tiques
transitórios duram apenas semanas ou poucos meses e geralmente não
estão associados com comportamentos ou problemas escolares. Eles são
especialmente reparados ou notados nos períodos de excitação ou fadiga.
Como todas as síndromes de tiques, os meninos são de três a quatro
vezes mais afetados do que as meninas. Enquanto tiques transitórios,
por definição, não persistem por mais de um ano, não é incomum para uma
criança, apresentar uma “série” de tiques num curso de diversos anos.
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Tiques Crônicos
São diferenciados dos transitórios não apenas
pela sua duração através de anos, como também pela suas características
relativamente imutáveis, inalteráveis. Enquanto os tiques transitórios vêm e vão, tiques crônicos, como franzir um lado da testa, ou piscadelas, podem persistir inalteradas por muitos anos.
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Tiques Crônicos Múltiplos
Sugerem que um indivíduo tem diversos tiques
motores crônicos. Não é uma tarefa freqüentemente fácil diferenciar
tiques passageiros, tiques crônicos e tiques crônicos múltiplos.
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Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial de tiques motores
simples inclui uma variedade de movimentos hipercinéticos: mioclonias,
tremores, coréia, atetose, distonias, movimentos acatísticos,
discenesias paroxísticas, movimentos balísticos e hiperplexia. Esses
movimentos podem estar associados a condições genéticas como a Coréia
de Huntington ou a Doença de Wilson; lesões estruturais, como
hemibalismo (associado a lesões no núcleo contralateral subtalâmico);
processos infecciosos como na Coréia de Sydenham; instabilidade
idiopática funcional dos circuitos neuronais, como epilepsia
mioclônica; tratamento farmacológico como a acatisia aguda, e distonias
associadas ao uso de agentes neurolépticos. A diferenciação entre
essas condições e transtorno do tique normalmente é feita em bases
clínicas, e está fundamentada no surgimento de transtornos e sua
história natural. Por exemplo, apesar dos aspectos dos tiques como sua
abruptividade, seu tempo de ataque ou sua natureza supressível, que
pode ser similar aos sintomas observados em outras condições, é raro
todas essas características se combinarem na ausência de transtorno de
tiques verdadeiros. Em crianças com mais idade, adolescentes e
adultos, perguntas relacionadas à presença de impulsos sensoriais
premonitórios que precedem e são aliviadas pelos tiques, podem ser de
valor na avaliação dos sintomas dos tiques. Ocasionalmente os testes
diagnósticos são necessários para excluir diagnósticos alternativos.
Tiques motores complexos podem ser confundidos
com outros comportamentos repetitivos complexos como as estereotipias e
os rituais compulsivos. A diferenciação entre esses comportamentos
pode ser difícil, particularmente entre os indivíduos oligofrênicos com
habilidade verbal limitada. Em outros casos nos quais esses sintomas
estão intimamente entrelaçados, como em pacientes com Síndrome de
Tourrete e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) associados, esforços
para distinguir entre tiques motores complexos e comportamento
compulsivo podem ser infrutíferos. Em alguns casos de transtorno do
tique, é pouco usual a observação de tiques motores complexos na
ausência de tiques simples. Elocuções verbais involuntárias são sinais
neurológicos incomuns na ausência de transtorno do tique. A doença de
Huntington pode estar associada a fungadas e sons. Gemidos
involuntários podem ser ouvidos na doença de Parkinson como resultado da intoxicação pela L-dopa.
Tiques fônicos complexos tipicamente caracterizados pela fala
articulada podem ser distinguidos de outras condições inclusive
coprolalia voluntária (o indivíduo percebe que vai realizar mas não
consegue evitar). Por raramente estar presente em outras síndromes de
tiques fônicos, pode exercer um importante papel no diagnóstico
diferencial.
Às vezes pode ser difícil distinguir crianças com
um severo Déficit de Atenção com Hiperatividade (DHDA) de ST. Muitas
crianças DHDA, em exames mais detalhados, têm um pouco de tiques
fônicos ou motores, fazem caretas ou produzem barulhos similares
àqueles com ST. Desde que pelo menos metade dos pacientes com ST, têm
déficit de atenção e hiperatividade, um médico poder ficar em dúvida.
Todavia, o médico deve ficar alerta para possíveis complicações ao
tratar um provável caso de ST com medicação estimulante (ver página 13 -
tratamento com estimulantes).
Em raras ocasiões a diferenciação entre ST e um
episódio convulsivo pode ser problemática. Os sintomas de ST às vezes
ocorrem de uma maneira separada da maneira paroxística aguda e podem
assemelhar-se a automatismos. Pacientes com ST, entretanto, mantêm a
consciência durante tais episódios paroxísticos. Se houver dúvida no
diagnóstico, um eletroencefalograma (EEG) pode ser útil.
É possível que danos no sistema nervoso central
causado por traumas ou doenças possam tornar uma criança vulnerável
para a expressão dessas desordens e, particularmente, se houver uma
predisposição genética.
Crianças autistas com déficit mental podem
apresentar todos os sintomas da ST, mas ainda permanece em aberto a
questão até que testes adicionais (biológicos ou outros) estejam
disponíveis para um diagnóstico definitivo de ST.
Em pacientes adultos condições como Doença de
Wilson, Discinesia Tardia, Síndrome de MEIGE, abuso crônico de
anfetaminas e movimentos estereotipados da esquizofrenia, devem ser
consideradas no diagnóstico diferencial. A diferença pode ser feita
através de uma boa anamnese ou exames de sangue.
A anamnese, a história familiar, a observação e o
exame neurológico são normalmente suficientes para estabelecer o
diagnóstico do transtorno do tique. Não existem testes diagnósticos
confirmatórios. Evidência laboratorial de uma infecção estreptocócica
recente pode autorizar a consideração de um tratamento com
antibióticos. No presente, estudos de neuroimagem não são diagnósticos,
entretanto, têm contribuído para o aumento do conhecimento dos
substratos neurobiológicos da Síndrome de Tourrete.
Desde que um grande número de médicos está mais
ciente e alerta sobre a ST há que se tomar cuidado com um crescente
“excesso” de diagnóstico e de tratamento (“over-diagnosis e over-treatment”).
É da alçada do médico os efeitos que os sintomas estão produzindo na
vida do paciente, ou seja, na sua habilidade funcional (assim como a
severidade dos sintomas associados) antes de decidir por um tratamento
medicamentoso ou outras alternativas.
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Comorbidades
Pacientes com a ST apresentam uma série de outros
sintomas além de tiques, incluindo compulsões, obsessões, dificuldades
de atenção, impulsividade, dificuldade do aprendizado, disfluência
verbal (p. ex.: gagueira), labilidade de humor, irritabilidade,
automutilação, ansiedade, depressão, dificuldade de relacionamento com
pares, comportamento agressivo, autismo e alteração no perfil do sono.
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A Síndrome de Tourette e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo
Trabalhos clínicos têm apresentado uma incidência
aumentada de Sintomas Obsessivo-Compulsivos - SOC (SOC são alguns
sintomas que o indivíduo manifesta, mas não caracteriza o transtorno,
ou seja, não preenche os critérios para o transtorno) (46%) e TOC (23%)
em pacientes com ST quando comparados com grupos controle. De forma
semelhante, freqüências de até 30% de tiques e/ou ST em pacientes com
TOC também têm sido relatadas.
A associação genética entre TOC e ST tem sido
bastante descrita na literatura, sugerindo que os pacientes com TOC de
início precoce e história familiar de tiques ou SOC podem ter o mesmo
substrato genético da ST, para a qual tem sido descrito um padrão de
herança genética como autossômica dominante com penetrância variável.
Estudos clínicos e fenomenológicos têm sugerido
que pacientes com TOC associado a ST apresentam, mais freqüentemente,
compulsões "tic-like", definidas como compulsões semelhantes a tiques complexos, mas realizadas com o objetivo de aliviar o incômodo causado por uma obsessão. São exemplos de compulsões "tic-like":
tocar, esfregar, dar pancadinhas, piscar os olhos ou olhar fixamente.
Este tipo de compulsões está presente em 70% a 80% dos pacientes com
TOC associado à ST.
Recentemente, com o objetivo de definir a
fenomenologia dos SOC em pacientes com TOC isolado e TOC associado a
tiques ou ST, sugeriu-se um método de classificação fenomenológica dos
sintomas referidos por esses pacientes baseados nas experiências
subjetivas que precedem seus comportamentos repetitivos. Neste trabalho
foram descritas as características fenomenológicas e as experiências
subjetivas relatadas por pacientes adultos em relação aos tiques,
obsessões e compulsões e classificadas como: fenômenos sensoriais (p.
ex.: sensações físicas, urgências, sensações mentais); fenômenos
cognitivos (p. ex.: pensamentos, idéias, imagens); ou fenômenos de
ansiedade autonômica (p. ex.: sudorese, taquicardia e outros sintomas
somáticos de ansiedade).
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Distúrbio Hiperativo e Déficit de Atenção
O Distúrbio Hiperativo e Déficit de Atenção
(DHDA), é encontrado em até 50% dos casos de ST. Em aproximadamente
metade dos casos o quadro de ST é precedido de comportamento
hipercinético sugerindo a hipótese de que o DHDA possa representar a
manifestação inicial do hipotético gene da ST.
O aumento da dificuldade com atenção pode
refletir uma evidente disfunção biológica envolvendo inibição e pode
ser exacerbada pelo esforço de se adequar enquanto trabalha arduamente
para permanecer calma e firme. Problemas de atenção e hiperatividade
podem afetar profundamente os conhecimentos escolares. Pelo menos entre
30% e 40% de crianças com ST têm sérios problemas na sua performance
escolar, que requer uma intervenção especial, e crianças com ST e DHDA
são propensas a desenvolver maiores dificuldades ao longo da vida.
Déficit de atenção pode persistir na fase adulta, e junto com
compulsões e obsessões, pode prejudicar seriamente a desempenho no
trabalho.
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Labilidade Emocional, Impulsividade e Agressividade
Alguns pacientes ST (porcentagens variam de
acordo com a série) têm significantes problemas com labilidade
emocional, impulsividade e agressão dirigida a outros.
Atos como gritar, socar paredes, ameaçar outras pessoas, bater, morder e chutar, são comuns a tais pacientes.
Freqüentemente serão pacientes que também terão
DHDA, o que torna o controle da impulsividade um problema considerável.
Às vezes essa explosão de temperamento pode ser vista como reação a
pressões internas e externas da ST. Uma etiologia específica para tal
tipo de alteração comportamental não é muito bem compreendida. Apesar
disto, elas criam muita consternação com professores, e uma grande
angústia, tanto para os pacientes ST, como para seus familiares. O
médico é freqüentemente questionado se estes comportamentos são
involuntários, como o são os tiques, ou se eles podem ser controlados.
Ao invés de se tentar fazer esta distinção, talvez seja mais útil
pensar nestes pacientes como tendo uma tênue barreira entre pensamentos
agressivos e a expressão destes pensamentos através de ações. Estes
pacientes podem se sentir como estando fora de controle, um conceito
que é tão assustador para eles, quanto o é para os outros.
O manejo destes comportamentos é freqüentemente
difícil e pode envolver ajustes com medicamentos, terapia individual,
terapia familiar, ou reeducação comportamental. A intensidade destes
comportamentos freqüentemente aumentará com os picos dos tiques e
decrescerão com a sua queda (“wax e wane”).
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Distúrbio do Aprendizado
Dificuldades do aprendizado estão presentes em
36% das crianças e adolescentes com a ST, incluindo dificuldades na
leitura, matemática e grafismo. Parte destas dificuldades pode estar
relacionada à sintomatologia da ST, como por exemplo, o fato dos tiques
afetarem a dinâmica da sala de aula, participação em discussões ou
mesmo o grafismo.
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Alterações do Sono
Sonambulismo, insônia e outros transtornos dos
mecanismos do sono já foram relatados em uma proporção substancial de
pacientes com ST.
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Causas e Patogêneses Neuroquímica
A mais intensiva pesquisa em relação à etiologia, esteve focalizada nas alterações neuroquímicas do cérebro.
Sistemas neuroquímicos múltiplos têm sido
implicados pelas evidências farmacológicas e metabólitas. A mais
convincente evidência por envolvimento dopaminérgico vem da dramática
resposta para haloperidol e outros neurolépticos como pimozide,
flupenazine e penfluridol bem como exacerbações produzidas por
medicamentos estimulantes. O encontro de níveis reduzidos de
metabólitos dopamina no liquor cefaloraquidiano (CSF) tem levado
pesquisadores a acreditar que ST resulta de uma hipersensibilidade de
receptores pós-sinápticos dopaminérgicos. Tem-se sugerido o
envolvimento de mecanismos serotoninérgicos. Desde que sistemas
dependentes de neurotransmissores enviam projeções para a substância
nigra e o estriato, elas podem ter um papel importante na
fisiopatologia da ST. Medicamentos que afetam este sistema são efetivos
para as obsessões, mas têm efeitos inconsistentes nos tiques. Níveis
elevados de colina nas hemácias têm sido encontrados em pacientes ST e
nos seus parentes, mas o significado não é claro.
A investigação do sistema gabaérgico sugere que
este possa estar implicado. A proximidade e conexões entre o gaba e o
sistema dopaminérgico, sugerem a possibilidade de uma inter-relação. A
resposta para o clonazepam (um agente gabaérgico) tem sido positivo
em alguns casos. Porém outras drogas gabaérgicas, como o diazepam, não
tem tido tais efeitos positivos.
Mecanismos noradrenérgicos têm sido mais
implicados pela observação do que clonidina, uma droga que inibe a
função noradrenérgica pelo estímulo de um auto-receptor, pode melhorar
os sintomas motores e fônicos. O envolvimento noradrenérgico tem também
sido sugerido pela exacerbação da síndrome pelo estresse e ansiedade.
O uso de neuroimagens como a ressonância
magnética funcional, pode ajudar a estabelecer muitas relações
fisiológicas e identificar importantes áreas anatômicas num futuro
próximo.
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Fatores Genéticos
O índice de concordância para ST entre pares de
gêmeos monozigóticos é maior que 50%, enquanto que para pares de gêmeos
dizigóticos está ao redor de 10%. Se co-gêmeos com transtornos de
tiques motores crônicos forem incluídos, esse perfil de concordância
sobe para 77% a 90% para pares de gêmeos monozigóticos e 30% para pares
de gêmeos dizigóticos. Diferenças na concordância de pares de gêmeos
monozigóticos e dizigóticos indicam que os fatores genéticos exercem um
importante papel na causa da ST e condições relacionadas. Esses
padrões também sugerem que fatores não genéticos são críticos na
determinação da natureza e gravidade da síndrome clínica.
Parentes em primeiro grau de uma família com ST
apresentam um risco substancialmente mais alto de desenvolver a ST,
transtorno de tique motor crônico e TOC, do que indivíduos não
relacionados. No total, o risco para membros da família em primeiro
grau, do sexo masculino, é aproximadamente 50% (18% para ST, 31% para
tiques motores crônicos e 7% para TOC), enquanto que o risco relativo
para membros do sexo feminino é menor (5% para ST, 9% para tiques
motores crônicos e 17% para TOC).
O perfil de transmissão vertical entre membros de
uma mesma família levou diversos grupos de pesquisadores a avaliar se
modelos matemáticos de hipóteses genéticas específicas poderiam ou não
prever esses dados. A maior parte desse trabalho favorece os modelos de
transmissão autossômica dominante. Esses estudos têm induzido à
identificação de grandes famílias de várias gerações facilitando
estudos de ligação genética. Tais estudos, entretanto, têm apresentado
muitas falhas para identificar qualquer vulnerabilidade específica dos
genes, e a opinião prevalente favorece um modo mais complexo de herança
envolvendo mais do que um locus genético. No presente, abordagens do
compartilhamento genético, como estudo de pares de irmãos afetados,
oferecem a grande promessa para a detecção da localização cromossômica
da vulnerabilidade dos genes associados à ST.
Baseado nas informações disponíveis hoje está
claro que a ST é uma desordem genética. A vulnerabilidade da ST é
transmitida de geração para geração. Quando se fala em
vulnerabilidade, diz-se que a criança recebe base genética ou
constitucional para desenvolver o tique. O tipo preciso da desordem ou
sua severidade pode ser diferente de geração para geração. Essa
vulnerabilidade é transmitida tanto por mães quanto por pais, e pode
ser passada tanto para filhos como para filhas. Quando um parente é
portador ou tem ST, parece que existe uma chance de 50% que a criança
receberá a vulnerabilidade genética deste parente. Este padrão de
herança é descrito como autossômico dominante. No entanto, nem todo
mundo que herda a vulnerabilidade genética irá expressar alguns dos
sintomas de ST. Há uma chance de que 70% dos portadores dos genes
femininos expressem alguns dos sintomas de ST. Já para um portador
genético masculino, existe 99% de chance de mostrar alguma expressão
clínica do gene. O grau da expressão é descrito como penetrância. Nos
homens a penetrância é mais alta do que nas mulheres, daí homens terem
maior possibilidade de ter alguma forma de expressão da vulnerabilidade
genética. Há uma chance completa de 30% de portadores genéticos
femininos não apresentarem sintoma algum. Para masculinos, a figuração é
de 1%. Há um grande número de formas nas quais a vulnerabilidade pode
ser expressa, tiques múltiplos crônicos e o mais recentemente
reconhecido, Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC.
Alguns indivíduos têm ST (ou tiques crônicos) e
TOC juntos. Outros podem ter as condições separadamente. Existem também
diferenças entre os sexos nas formas de expressão do gene ST. Os
homens são mais propensos a ter ST ou tiques. As mulheres são mais
propensas ao TOC, entretanto, ambos podem ter qualquer combinação ou
severidade.
A severidade do transtorno é também altamente
variável. A maioria dos indivíduos que herdam a vulnerabilidade
genética da ST tem uma expressão bastante moderada implicando a não
procura por atenção médica.
No presente, não há nenhum teste genético ou
bioquímico para determinar se a pessoa com ST ou não, é portadora do
gene. Não há nenhum teste pré-natal para a vulnerabilidade da ST.
Quando os cientistas obtiverem sucesso em localizar os genes, tais
testes poderão se tornar disponíveis.
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Fatores não-genéticos
As variações individuais em caráter, curso e grau
de severidade pela qual a ST é manifestada, não podem ser explicadas
simplesmente pelas hipóteses genéticas. Além disso, parece que 10% a
15% não recebem a doença geneticamente. Desta forma os fatores não
genéticos também são responsáveis, tanto pelas causas como pelos
modificadores da ST. Os fatores não genéticos que têm sido implicados
incluem processos estressantes ou eventos durante o período pré-natal
ou perinatal, ou fetos expostos à drogas ou outras toxinas. Há um
estudo que relata a diminuição de peso dos recém-nascidos, em relação a
co-gêmeos de pares monozigóticos discordantes, trouxe mais apoio para
a influência dos fatores ambientais.
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Aspectos perinatais: a busca por fatores não genéticos que medeiam a expressão da vulnerabilidade genética para ST e transtornos relacionados, também foi focalizada no papel de eventos adversos perinatais. Estudos revelaram que mães de crianças com tiques eram 1,5 vezes mais predispostas a terem experimentado uma complicação durante a gravidez do que mães de crianças sem tiques. Entre gêmeos monozigóticos discordantes para ST, o índice de gêmeos com baixo peso ao nascimento foi maior do que seus co-gêmeos não afetados. A gravidade do estresse materno durante a gravidez, náusea severa ou vômitos durante o primeiro trimestre, também surgiram como fatores de risco potencial para o desenvolvimento de transtornos desencadeadores de tique. Existe um relatório preliminar relacionando o uso de fórceps durante a expulsão do bebê, mãe fumante e o uso de álcool durante a gravidez, como fatores de risco para o desenvolvimento de TOC e tiques relacionados.
Aspectos psicológicos: há muito os
transtornos do tique têm sido identificados como condições
“estresse-sensitivas”. Tipicamente, as exacerbações do sintoma seguem
no rastro dos eventos estressantes da vida. Conforme notado por Shapiro
e col., estes eventos não precisam ser adversos no caráter. A
experiência clínica sugere que em algum momento infeliz, um círculo
vicioso pode ter iniciado, no qual os sintomas de tiques são mal
interpretados pela família e professores, conduzindo a esforços ativos
para suprimir o sintoma pela punição e pela humilhação. Esses esforços
podem levar a uma nova exacerbação dos sintomas e a um posterior
aumento no estresse no ambiente interpessoal da criança. Se não
controlado, este círculo vicioso pode evoluir para manifestações mais
graves da ST e distimia, bem como para traços caracterológicos
mal-adaptativos. Embora fatores psicológicos sejam insuficientes para
causar ST, a íntima associação do conteúdo e o momento, torna-se
difícil negligenciar sua contribuição para o curso intramórbido desses
transtornos.
Além dos efeitos intramórbidos de estresse e da
ansiedade, que foram bem caracterizados, o estresse pré-mórbido também
pode exercer um papel importante como agente sensibilizador na
patogênese da Síndrome de Tourette entre indivíduos vulneráveis. Dados
preliminares também sugerem que um subconjunto de pacientes com ST
pode ser caracterizado pelo aumento da atividade do sistema simpático
noradrenérgico central e periférico e a facilitação tônica da atividade
induzida pelo estresse do eixo hipotalâmico-pituitário adrenal.
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Medicamentos Estimulantes
Um fator de risco particularmente importante em
tiques e ST é o de estimulantes. Em alguns estudos mais de 25% de todos
os pacientes ST têm sido tratados na emergência de seus tiques ou
sintomas comportamentais porque eles tinham sido diagnosticados como
pacientes DHDA. Nos últimos anos, uma série de casos têm sido
relatados, nos quais o uso de estimulantes (metilfenidato
dextroanfetamina e pemolina) estão correlacionados com o início dos
tiques motores e fônicos. Também existe evidência química para
sustentar a observação de que estimulantes aumentam a severidade dos
tiques em 25% a 50% dos pacientes ST.
Em muitos casos os tiques associados com
estimulantes, desaparecerão com a redução ou o término dos
medicamentos. Permanece controverso, se estimulantes podem de fato
eliminar ou produzir tiques múltiplos crônicos prolongados ou ST, que
irão persistir após seu término. Entretanto, casos têm sido reportados
nos quais isto parece haver ocorrido.
Informações disponíveis indicam que estimulantes
devem ser usados cautelosamente em crianças DHDA que tenham parentes
próximos com tiques, devem geralmente ser evitados com crianças DHDA
com parentes em primeiro grau com ST e devem ser eliminados com início
de tiques em crianças que anteriormente eram livres dos mesmos. As
crianças e os pais devem ser elucidados a respeito da relação
risco/benefício em cada caso com prioridade, em sendo tratados com
estimulantes. Alternativas tais como, terapia comportamental,
manipulações ambientais e/ou outros tipos de medicamentos, devem ser
cuidadosamente considerados.
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Avaliação Clínica da Síndrome de Tourette
A avaliação de um caso de ST envolve muito mais
do que um simples diagnóstico. Desde que os sintomas possam variar em
severidade e caráter, de hora em hora, o atendimento completo do
paciente pode tomar uma considerável quantidade de tempo. Na medida em
que o paciente estabelece uma relação de confiança com um médico,
haverá menos probabilidade de supressão ou inibição dos sintomas, pois
somente a partir daí o paciente estará inclinado a admitir os tiques
mais assustadores ou bizarros. A natureza, severidade, freqüência e
grau da disrupção produzidos pelos tiques motores e vocais, precisa ser
cuidadosamente avaliada da hora da sua emergência até o presente.
Devem ser feitas indagações sobre os fatores que podem ter piorado ou
amenizado sua severidade. Uma questão crítica diz respeito ao grau pelo
qual os tiques têm interferido com as experiências sociais,
familiares, escolares e profissionais do paciente. Nestes aspectos,
entrevistas com familiares podem ser reveladoras e informativas.
Durante avaliação do paciente com ST, o clínico deve acessar todas as
áreas do funcionamento para entender completamente, tanto as
dificuldades como os esforços positivos das atitudes do paciente.
É importante explorar a presença de problemas de
atenção e aprendizado, uma história de desempenho escolar e/ou
profissional, e relacionamentos com a família e os colegas. Antes de
receber o diagnóstico, o paciente e/ou a família podem pensar que
ele/ela, estava enlouquecendo. O paciente pode ter se tornado
extremamente estressado por suas próprias experiências e pelas
freqüências e freqüentes respostas negativas evocadas. Os pais podem
ter repreendido, menosprezado, ridicularizado, ameaçado e talvez até
batido na criança para ela parar com o estranho e embaraçoso
comportamento, e a seqüela emocional pode afetar o paciente muito além
do seu período de infância.
Durante a avaliação de uma criança, entretanto,
questões familiares incluindo a culpa dos pais, necessitam ser
enfocadas. Fatores relevantes, elucidados através de cuidadosa
avaliação de diagnóstico, podem ser aproximados através de
esclarecimento, educação e discussão terapêutica com o jovem e sua
família. Cuidadosa avaliação de função cognitiva e realização escolar
são indicadas para crianças que tenham problemas na escola. As crianças
ST com dificuldade de desempenho escolar freqüentemente não têm
claramente delineadas desordens de aprendizado, e a média de QI dos
pacientes ST é normal. Entretanto, seus problemas tendem a existir nas
áreas de atenção, perseverança e a habilidade de manter seu trabalho e a
si mesmos organizados. Muitos têm dificuldades com a escrita (destreza
grafomotora) e compulsões que interferem com a escrita. Determinar
específicas áreas problemáticas, irá ajudar na recomendação das
alternativas (p. ex.: período mais extenso de tempo para testes, o uso
de máquina de escrever ou a ênfase em relatórios orais mais do que em
relatórios escritos). O exame neurológico pode incluir documentação de
dificuldade no desenvolvimento e outros aspectos neurológicos. Cerca de
metade dos pacientes ST as têm “não-localizada”, então chamadas soft, achados neurológicos sugerindo distúrbios no corpo - body scheme
e integração de controle motor. Enquanto tais descobertas não possuem
específicas implicações terapêuticas, vale a pena identificá-las como
dados basais, já que o uso de medicamentos como o haloperidol pode
mascarar a figuração neurológica.
O EEG é freqüentemente anormal em ST, mas os
achados do EEG não são específicos. Tomografia computadorizada craniana
produz resultados normais em pessoas com ST. Então, a menos que exista
dúvida sobre o diagnóstico ou algum fator neurológico complicado, um
EEG e uma tomografia não são partes necessárias de uma avaliação
clínica. Estudos funcionais com ressonância magnética de crânio poderão
ser mais úteis. Estudos adicionais que podem ser considerados
incluem: dosagem de eletrólitos, cálcio, fósforo, cobre, ceruplasmina, e
testes de função hepática são importantes para diagnóstico diferencial
dos distúrbios dos movimentos. Na prática, entretanto, eles não são
necessários para o diagnóstico.
Uma genealogia comportamental de toda a família,
incluindo tiques, compulsões, problemas de atenção e assim por diante, é
útil. Medicações anteriores devem ser revisadas detalhadamente durante
a avaliação. Se uma criança recebeu estimulantes, é importante
determinar para que foi a indicação do remédio, se preexistia qualquer
tique ou compulsão, e a relação temporal entre os estimulantes e os
novos sintomas. Agonistas catecolaminérgicos estão contidas em outras
drogas, assim como combinações descongestionantes usadas no tratamento
de alergias e em medicamentos usados para asma. Se um paciente com ST
está sob estimulante ou droga contendo efedrina como agente, a
supressão deve ser fortemente considerada.
Se um médico examina um paciente
pré-diagnosticado, um completo histórico da medicação é essencial para
determinar quais os medicamentos que foram usados, quais as respostas
iniciais, negativas e positivas para a droga, e porque a medicação foi
suspensa. Um paciente ou seu responsável pode relatar que o haloperidol
não foi proveitoso ou que houve efeitos colaterais inaceitáveis. Uma
história cuidadosa pode revelar que o paciente melhorou com o
haloperidol, mas desenvolveu acatisia, a qual não foi reconhecida, ou
que os efeitos colaterais apareceram em alguma determinada fase e
foram controlados.
Deve-se considerar o seguinte: o medicamento foi
usado na dosagem correta, com orientação (monitoramento) por um tempo
suficientemente longo? Foram notadas mudanças comportamentais durante o
uso do medicamento, que possam representar efeitos colaterais
irreconhecíveis? Pacientes e familiares podem identificar e relatar os
efeitos colaterais, mas eles também podem não perceber que sintomas,
tais como depressão ou fobia escolar, podem estar relacionados ao
tratamento com neurolépticos, ao invés de questões psicológicas.
Se um paciente está atualmente com uma medicação
adequada, mas ainda tem sérias dificuldades, o clínico deve decidir se
aumenta a medicação e procura apoio, ou se diminui ou cessa a mesma, e
observa a resposta do paciente, ou se muda para uma medicação
alternativa.
Uma descontinuidade rápida (suspensão) de drogas
como haloperidol, pimozide e flufenazina, pode conduzir a severos
efeitos de dependência. Em geral, a suspensão de medicamentos pode
levar de dois a três meses de maiores sintomas. Assim, se estes
medicamentos forem suspensos (retirados) não se pode esperar que o
estado real do paciente seja visível em pouco tempo. Alguns pacientes
podem melhorar por umas poucas semanas após a interrupção neuroléptica e
então piorar uma semana adicional ou mais, permanecer pior por um
período e então gradualmente melhorar. Efeitos colaterais como prejuízo
cognitivo, problemas com a memória, sentimentos sombrios, pouca
motivação, fobias sociais e escolares, apetite excessivo e sedação,
podem levar de dias até semanas, enquanto os sintomas de tiques
emergentes permanecem ou se tornam piores.
Daí a decisão de se suspender os neurolépticos,
particularmente o haloperidol, pode ser mais difícil do que a sua
iniciação. A suspensão pode ser planejada de forma que a vida do
paciente seja modificada o menos possível. Freqüentemente, os pacientes
e suas famílias terão grande dificuldade em tolerar a descontinuidade
(suspensão) e necessitarão de um bom apoio de seu médico.
Se um paciente não está se beneficiando da
clonidina, esta deverá ser diminuída gradualmente, mesmo assim, um
período curto de exacerbação pode ocorrer. Quando a clonidina é
retirada abruptamente, uma hipertensão ressaltada pode se seguir, e uma
exacerbação dos tiques que pode durar no máximo de seis a oito
semanas.
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Tratamento da Síndrome de Tourette
A decisão sobre se tratar e, se assim for, qual a
forma de tratamento que deve ser tomada, dependerá do grau de
interferência que o tique ou a ST está exercendo no desenvolvimento
normal da criança, ou da habilidade do paciente adulto em funcionar
produtivamente. Ao se tratar uma criança, a ênfase primária deve ser de
ajudá-la a desenvolver normalmente as tarefas para ela se sentir
competente na escola, desenvolver amizades, confiar em si mesma, em
seus pais e aproveitar as aventuras da vida.
Muitas crianças com tiques múltiplos e ST, levam
suas vidas adiante de uma maneira positiva e produtiva. Para elas, não é
necessário um tratamento posto que o grau de interferência dos tiques,
no seu desenvolvimento, é mínimo. O aborrecimento natural dos pais
sobre os tiques requer prolongadas conversas e conhecimento sobre os
tratamentos oferecidos. Se o tratamento for decidido pela criança,
família e o médico, questões concernentes ao desenvolvimento deverão
ser constantemente avaliadas.
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Monitoramento
A menos que exista um estado de emergência, o
médico pode, usualmente, acompanhar um paciente por muitos meses antes
que um plano de tratamento específico seja elaborado. As metas do
primeiro estágio do tratamento são: estabelecer uma linha básica dos
sintomas; definir dificuldades associadas na escola, família e colegas;
obter testes médicos necessários e monitoramento através de listas de
comparação e entrevistas; extensão e flutuação nos sintomas; o contexto
específico das maiores dificuldades, e estabelecer uma conexão.
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Educação e Apoio
Se um jovem satisfaz o critério para ST, o
tratamento pode se tornar desnecessário, por causa dos bons
relacionamentos com os amigos e auto-imagem. Se os pais tiverem lido
sobre a ST, eles podem se preocupar com o futuro da criança. Na maioria
dos casos, a severidade ST fica clara dentro de duas ou três semanas
desde a sua primeira aparição. Nós também explicamos às famílias que,
em muitas instâncias, os sintomas da ST melhoram, espontaneamente, no
final da adolescência, próximo aos vinte anos. Embora as famílias
tenham conhecimento da ST, elas devem sempre ser informadas sobre os
novos achados resultantes da pesquisa científica. Pacientes adultos
requerem o mesmo nível de informação, educação e reasseguramento. Um
paciente bem informado está muito mais apto a tomar uma sábia decisão
sobre a necessidade de drogas e a ser cooperativo no ajuste da dosagem
se a medicação for decidida.
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Tratamento Farmacológico da Síndrome de Tourette
Embora algumas terapias comportamentais sejam
promissoras, o tratamento farmacológico é o único tratamento efetivo
provado para os tiques simples e complexos, motores e vocais.
Em um levantamento recente feito em Ohio (Estados
Unidos), pela Associação da Síndrome de Tourette, 70% dos pacientes
relataram um histórico positivo no tratamento com algum medicamento.
Os princípios básicos que regem o tratamento da ST com medicamentos são:
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Iniciar com uma dose mínima e razoável de remédio possível.
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Aumentar a dosagem, gradualmente, prestando extrema atenção ao desenvolvimento de efeitos colaterais, bem como a diminuição dos sintomas. Um aumento lento irá, normalmente, resultar em menores e mais suaves efeitos colaterais.
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Assegurar uma duração adequada de qualquer teste de droga em uma dosagem suficiente. Uma duração adequada de teste da droga pode ser difícil para o clínico que está enfrentando a necessidade urgente de seu paciente pelo controle efetivo dos sintomas, entretanto, é importante, se houver uma descontinuidade prematura do uso do medicamento, haverá falha no resultado e uma série de falhas fará o paciente se sentir incurável.
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Manter a mais baixa dosagem efetiva.
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Não fique “caçando” novos sintomas de tiques, isto é, não aumente a dosagem cada vez que um tique reaparece, a probabilidade de uma superdosagem será grande.
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Fazer mudanças passo a passo.
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Quando descontinuar a medicação, ser cuidadoso para não confundir o fim das reações com a necessidade de medicamentos mais potentes. Ver o que diz respeito às específicas reações de suspensão de medicamentos abordadas anteriormente.
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Medicamentos
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Haloperidol / Pimozide
Aproximadamente 70% dos pacientes com Síndrome de
Tourette respondem favoravelmente ao haloperidol ou à pimozida. A
redução média da gravidade dos sintomas está aproximadamente entre os
limites de 70% a 80%. Geralmente é útil que se inicie o tratamento com
baixas doses de medicação e fazer, gradualmente, qualquer aumento
necessário. Tipicamente o tratamento é iniciado com baixa dose (0,25 mg
de haloperidol ou 1 mg de pimozide) tomada antes de dormir.
Incrementos posteriores (0,5 mg ou 1 mg de pimozide) devem ser
adicionados entre 7 e 14 dias de intervalo, se o comportamento de
tiques permanecer grave. Em muitas situações, 0,5 para 6,0 mg/dia de
haloperidol ou 1,0 para 10,0 mg/dia de pimozide administrada por um
período de 4 a 8 semanas são suficientes para suprimir os tiques.
Os tiques muitas vezes continuam a aumentar e
diminuir em um nível muito reduzido, até durante os períodos de
tratamento neuroléptico. Geralmente não é uma boa idéia eliminar os
sintomas de tiques com ajustes na dosagem da medicação. Esses ajustes
normalmente não são benéficos e podem expor os indivíduos a efeitos
físicos adicionais não desejados da medicação, muitos dos quais parecem
estar relacionados com a dose.
O principal fator limitante no uso de medicações
neurolépticas é o surgimento dos efeitos colaterais, incluindo a
distonia aguda, a acatisia, a acinesia, o prejuízo cognitivo, o ganho
de peso e as fobias. A maioria dos indivíduos experimentará um ou mais
efeitos e uma proporção significativa desses indivíduos decidem pela
descontinuidade do tratamento se os efeitos colaterais não forem
controlados. Além desses efeitos, a pimozide pode causar um efeito
adverso na condução cardíaca em alguns indivíduos que apresentam a ST,
particularmente aqueles com dose superior a 10 mg por dia, por isto a
realização de rotina de eletrocardiograma nos pacientes que utilizam
esta medicação. Discinesias causadas pelo tratamento, como a discinesia
tardia, têm sido observadas em pacientes com ST expostos cronicamente
aos agentes neurolépticos. Em função dos riscos de curto e longo prazos
da medicação neuroléptica, muitos clínicos elegem o uso de medicação
somente em casos graves.
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Risperidona
A risperidona é um derivado benzisoxazol, com
algumas similaridades farmacológicas com a clozapina (um potente
bloqueador 5-HT2 e efeitos mais modestos como bloqueador dos
receptadores D2 da dopamina. Este agente foi inicialmente lançado nos
Estados Unidos para o tratamento da esquizofrenia, usando doses de 4 a
10 mg/dia. Estudos abertos subseqüentes na ST, 1-4 mg/dia em doses
divididas mostraram-se promissores. Não ocorreram efeitos
extrapiramidais em pacientes com ST, quando a dosagem foi aumentada
gradualmente. O ganho de peso, entretanto, pode representar um
significante efeito adverso não esperado. Ensaios clínicos duplo-cegos
randomizados são necessários antes que a prescrição desse agente possa
ser totalmente avaliada.
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Clonidina e Guanfacina
O hidrocloreto de clonidina e o hidrocloreto de
guanfacina, receptores agonistas adrenérgicos a-2 seletivos, podem
ser efetivos em pacientes que sofrem da Síndrome de Tourette. Ensaios
clínicos indicam que esses indivíduos podem esperar uma redução média
de 25% a 35% de seus sintomas em 8 a 12 semanas após o início do uso de
clonidina. Tiques motores mostram uma melhora maior em relação aos
tiques fônicos. A dose usual inicial é de 0,05 mg. Incrementos
posteriores de 0,05 mg em intervalos de 3 a 4 horas são adicionados
semanalmente até a dosagem de 5 mg/kg, ou se a dose total diária
exceder a 0,25 mg.
Embora a clonidina seja claramente menos efetiva
que o haloperidol e o pimozide, é consideravelmente mais segura. Talvez
a sua maior importância é que ela não tem o potencial de causar
discenesia tardia. O principal efeito colateral associado ao seu uso é a
sedação, que ocorre em 10% a 20% dos indivíduos, e normalmente fica
reduzida com o uso continuado.
Existem relatórios ocasionais nos quais os
pacientes sentem que as coisas estão “muito brilhantes”, talvez por
causa do prejuízo da contração da pupila. Outros efeitos colaterais
incluem: boca seca, hipotensão passageira e raros episódios de piora do
comportamento. A dose de clonidina deve ser reduzida gradualmente, mas
não interrompida subitamente, para reduzir a probabilidade da
ocorrência de sintomas e evitar a hipertensão de rebote. Uma leve
prolongação do intervalo PR no EKG foi notada, mas não foi considerada
por ser insignificante. O aumento da irritabilidade, pesadelos e
insônias também foram relatados. Quando a clonidina é retirada, ela o
deve ser gradualmente.
A guanfacina é um novo agonista a-2, menos
sedativo e menos apto a causar hipotensão que a clonidina. Ensaios
abertos também fundamentam seu valor na melhora de tiques e nos
sintomas de transtornos do déficit de atenção por hiperatividade. A
maioria dos indivíduos foram tratados com 1,5 mg/dia divididos em doses
pela manha e à tarde. A sedação passageira e as dores de cabeça foram
os efeitos colaterais mais comuns. Ensaios clínicos duplo-cegos
randomizados são necessários antes que a prescrição deste agente possa
ser totalmente avaliada.
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Tratamento de Obsessões e Compulsões na Síndrome de Tourette
É hoje reconhecido que os Sintomas
Obsessivo-Compulsivos - SOC, ocorrem em cerca de metade dos pacientes
com ST. Evidências correntes sugerem uma relação genética entre o TOC e
a ST. Sintomas de TOC podem ser mais desagradáveis do que os tiques
motores e vocais para alguns pacientes, resultando em prejuízo na
performance da escola ou trabalho, num desenvolvimento psicossocial
anormal ou vida familiar. Mais adiante, modelos de pensamentos
obsessivos e/ou atividades compulsivas podem contribuir nos problemas
de atenção, que é um outro problema comportamental da ST.
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Clomipramina
Entre as intervenções farmacológicas para o TOC,
medicamentos antidepressivos têm mostrado maior eficácia clínica. A
principal droga antidepressiva, amplamente estudada para o tratamento
do TOC primário, em populações psiquiátricas, é a clomipramina
(anafranil), um potente inibidor de recapturação de serotonina.
Diversos julgamentos clínicos controlados têm confirmado a eficácia de
clomipramina sobre outros antidepressivos tricíclicos em pacientes
adultos com TOC primário. Recentes experiências indicam que a droga
pode ser efetiva para TOC associado com ST.
Clomipramina é administrada em cápsulas de 25, 50
ou 75 mg. A droga é iniciada com 25 mg/dia e pode ser aumentada para
uma dosagem máxima diária de 250 mg em adultos (3 mg/kg em crianças) em
doses divididas, como for necessário. Cada paciente é trazido para seu
nível de dosagem otimizado pelo responsável clínico e pelos efeitos
colaterais encontrados. A clomipramina deve ser administrada com as
refeições para reduzir seus efeitos colaterais gastrointestinais, ou ao
se deitar para diminuir a sedação do dia. A dose de manutenção para
todos os pacientes deve ser a dose mais baixa eficaz, usualmente de
50-150 mg/dia. A resposta clínica para clomipramina pode ocorrer após
várias semanas do início do seu uso. Os efeitos colaterais observados
durante a terapia com a clomipramina são aquelas típicas de drogas
antidepressivas tricíclicas, tais como, sedação, boca seca, tonteiras,
tremores, constipação e disfunções sexuais. Como outras drogas
antidepressivas tricíclicas, a clomipramina pode baixar o limiar para
crises epilépticas.
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Fluoxetina
A fluoxetina (prozac, eufor, verotina, daforin,
psiquial), outro antidepressivo, é um inibidor seletivo de recapturação
de serotonina (SSRI). Experiências sugerem que esta droga pode ser
eficaz para o TOC associado com a ST. A medicação é iniciada com 20 mg
cada manhã e pode ser ajustada até 60-80 mg/dia dividida em 2 ou 3
doses. A resposta clínica para a fluoxetina também pode demorar por
várias semanas. A fluoxetina parece produzir menos e menores efeitos
colaterais tóxicos do que a clomipramina. Em adição a esses efeitos
colaterais típicos dos antidepressivos, dispepsia, náusea, erupções da
pele e comportamento hipomaníaco podem ocorrer. A droga pode suprimir o
apetite para alguns pacientes. A fluoxetina tem sido usada seguramente
em um pequeno número de crianças com ST. Alguns pacientes ST relatam
uma redução dos tiques e alguns relataram uma melhora na desempenho
escolar de suas crianças durante a terapia de fluoxetina.
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Associações Medicamentosas
Alguns clínicos preferem usar combinações de
medicamentos quando um agente simples é somente parcialmente eficaz.
Existem algumas evidências clínicas que indicam que o haloperidol (ou
outro dos neurolépticos mencionados anteriormente), mais a clonidina
podem causar efeitos sinergéticos. Existe também alguma evidência de
que clonidina pode reduzir acatisia causada por neurolépticos. A
combinação de haloperidol e clonidina têm sido usadas em duas situações
clínicas:
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Para pacientes cujos sintomas não são completamente controlados com haloperidol ou aqueles que estão sofrendo sérios efeitos colaterais quando a medicação é aumentada; pacientes que ainda não podem ter seu haloperidol completamente descontinuado (diminuído) por causa da severidade de sintomas ou da emergência de uma exacerbação com tato.
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Para pacientes que estão com clonidina mas ainda tendo sintomas fônicos e motores. Parece que aqueles pacientes podem ser controlados com doses menores de haloperidol se a clonidina é acrescida no regime e de outro modo que o haloperidol pode melhorar o controle do tique para alguns pacientes com clonidina. Em geral pequenas doses de ambos os medicamentos têm sido usadas quando as drogas são combinadas e nenhum efeito colateral sério tem sido relatado em adição ao que é visto quando cada droga é usada individualmente.
Outras combinações como um neuroléptico mais
fluoxetina ou um antidepressivo tricíclico pode ser útil a pacientes
obsessivo-compulsivos nos quais ambos são severos. Clonazepam tem sido
usado em combinação com ambos - clonidina ou neurolépticos, mas existe
pouca evidência da eficácia destas combinações. Enquanto existir
justificativa para usar várias combinações de medicamentos em pacientes
individuais, a melhor recomendação seria explorar completamente o uso
de agentes farmacológicos simples antes de valer-se de
polimedicamentos.
Clonazepam tem sido dita como eficaz em alguns
casos de sintomas suaves dos tiques. Pode também ser usada em conjunto
com outros medicamentos previamente discutidos. Entretanto ela tem a
desvantagem de ser uma droga que vicia (habit-forming).
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Escolha da Medicação
A escolha do médico para uma primeira droga é
uma decisão difícil. O haloperidol tem sido a mais escolhida e seu
benefício terapêutico e efeitos colaterais são bem definidos. Outra bem
afirmada como uma primeira droga é a clonidina, a qual é menos bem
definida e menos provável para ser dramaticamente eficaz. Clínicos que
conduzem através da clonidina como uma primeira droga, fazem-no por
causa de seus limitados efeitos colaterais e seus efeitos positivos na
atenção, entretanto, quando uma resposta rápida é necessária, o
haloperidol ou o pimozide podem ser mais eficazes. Quando tratando uma
criança com ambas, DHDA e ST é conveniente evitar o uso de estimulantes
(rever medicamentos estimulantes). Tratamentos alternativos para DHDA
incluem imipramina, clonidina e neurolépticos. Quando usados sozinhos,
os antidepressivos não são proveitosos no tratamento dos tiques.
Entretanto, pacientes ST podem desenvolver sérias depressões e então o
uso de antidepressivos deve ser considerado. Em tais situações os
antidepressivos têm sido adicionados no tratamento da ST em andamento
(haloperidol e clonidina) com bons resultados. O que complica a
avaliação da depressão na ST, é o fato de que pimozide, haloperidol e
clonidina podem alterar o comportamento baixo astral ou
disforia. Conseqüentemente, uma tentativa de “não” medicação deve ser
considerada antes da adição de um antidepressivo, especialmente se a
depressão aparecer logo após o uso de um outro medicamento e com
nenhuma precipitação psicossocial aparente. Vários tranqüilizantes
menores têm sido usados no tratamento da ST sem benefícios aparentes na
sintomatologia dos tiques. Entretanto, pacientes individuais parecem
ter sido beneficiados de medicamentos, tais como, benzodiazepínicos (p.
ex.: diazepan e alprazolam), quando usados para ajudar a aliviar a
ansiedade ou para melhorar o sono. Desta forma, seu uso para pacientes
ST, deve seguir a diretriz usual.
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Psicoterapia
Mesmo não eliminando completamente os tiques, a
psicoterapia é benéfica para a maioria dos pacientes de ST. A
inabilidade de controlar o próprio corpo e até mesmo os próprios
pensamentos, o que é dado por certo pela maioria das pessoas,
freqüentemente gera ansiedade, culpa, medo, desespero, raiva e
depressão.
Na abordagem cognitivista e/ou a comportamental é
essencial educar o paciente sobre a natureza e trajetória do
transtorno. Clarificar as características básicas para que ele perceba
que tais questões pouco falam sobre sua história de vida, valores,
condutas e realizações mas que elas representam os sintomas do
transtorno.
Em virtude dos pacientes ST estarem sujeitos a
alguma forma de reações sociais negativas (jocosas), os problemas de
auto-estima são comuns ou pelo menos esperados. Alguns pacientes reagem
a tais situações através da evitação, outros pela agressividade e
outros, ainda, através do perfeccionismo e esforço excessivo para estar
sob controle. .
Por fim, é importante considerar que geralmente
pacientes de ST estão em fase de formação, isto é, são crianças ou
adolescentes, e que existem outros fatores, não menos importantes, que
não devem ser negligenciados. Assim, o apoio psicoterápico é
fundamental para o paciente assim como o apoio e aconselhamento
familiar.
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Apoio / Tratamento Familiar
Como qualquer doença crônica, a ST causa grande
impacto na família como também no paciente. Os pais freqüentemente
demoram mais tempo para aceitar os problemas dos seus filhos do que as
próprias crianças. Parte do problema existe pela culpa associada com a
natureza genética do transtorno. Outro grande problema para os pais é
entender quais os comportamentos que estão além do controle da criança
ST e quais os que podem e devem ser controlados. Também as preocupações
com a criança “doente” podem conduzir para uma situação onde a
escassez de atenção é dada como impacto para a criança sem ST.
Freqüentemente os cônjuges de pacientes não dão a devida atenção aos
problemas complexos da ST e seus efeitos, em um pré-relacionamento, até
algum tempo mais tarde quando eles já estão casados. A terapia
familiar para ST deve centralizar-se no papel que o paciente ST
desempenha na mesma. É ele ou ela superprotegido? Punido, mal-entendido
ou uma fonte de embaraço? A doença domina o relacionamento
interfamiliar ou é levada numa boa? Se a família pode aprender
a aceitar o membro com ST e seus sintomas – não importa quais sejam – a
família pode fornecer a sensação de segurança necessária para uma
aproximação saudável com o mundo exterior.
Geralmente, a primeira tarefa de uma terapia
familiar, é educar os membros da família sobre os vários aspectos da
doença. Pensa-se que a família e até mesmo o paciente ST não entendem
completamente o alcance da sintomatologia e nem como espera-se que eles
lidem com isso.
Após a compreensão da doença, o entendimento dos
sintomas, é importante compreender como cada membro da família lida com
a situação.
As melhores metas para os membros da família com
ST incluem: a promoção da auto-estima, competência e apoio no desafio
do trabalho/escola e o relacionamento entre amigos. A meta para os
membros da família é desenvolver a flexibilidade de dar uma ajuda
especial quando necessário sem superproteger.
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Consultas Genéticas
Com o reconhecimento que a ST familiar é
genética, as famílias naturalmente têm se interessado na possibilidade
de uma consulta genética. Tais consultas devem ser feitas por clínicos
especializados que possam fornecer informações precisas sobre o modo da
transmissão e podem trabalhar com elas e os sentimentos complexos que
surgem.
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Prognóstico
O prognóstico para transtornos dos tiques
geralmente é bom, com a maioria dos indivíduos experimentando uma piora
de seus sintomas de tiques entre 10 e 15 anos de idade. O curso na
idade adulta é variável, mas muitos pacientes apresentam um repertório
mais ou menos estável dos sintomas de tiques, que crescem e diminuem,
sob um reduzível nível de gravidade.
Prognósticos pobres na idade adulta estão
associados com experiências perinatais adversas, transtornos comórbidos
do desenvolvimento e mental, doença física crônica, meio ambiente
familiar instável e não suportiva, e exposição a drogas psicoativas,
como cocaína e esteróides anabolizantes. Complicações potenciais
incluem a emergência dos Transtornos Obsessivo-Compulsivos, o caráter
patológico associado aos transtornos crônicos estigmatizantes e o dano
físico secundário aos tiques motores auto-abusivos.
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Intervenções Ocupacionais e Acadêmicas
Crianças com problemas de atenção e aprendizado
requerem intervenção educacional similar às usadas nos tratamentos de
outras formas de DHDA e dificuldade de aprendizado. Dependendo da
severidade da escola e problemas comportamentais associados, os
pacientes ST podem precisar de atendimento especial (monitoramento), um
laboratório de aprendizado, uma classe especial, uma escola especial
ou uma escola residencial. Pode ser difícil convencer uma escola
municipal sobre as necessidades de provisões especiais na escola para
um bom desempenho do paciente ST que não tenha problemas de aprendizado
específico, mas cujos problemas de atenção limitam-se na obtenção de
uma boa prática funcional.
Desde que a ST não é uma doença comum, as escolas
precisam ser informadas sobre a sua natureza e como ela afeta a
atenção e o aprendizado. Algumas vezes os médicos devem ser os
advogados das crianças. Crianças com ST às vezes têm aulas em suas
casas, porque seus sintomas são vistos como perturbadores para a classe
de aula. Os sintomas mais difíceis para os professores são os sintomas
fônicos/vocais. Uma criança que é obrigada a estudar em sua casa é
privada de seus direitos legais de uma educação adequada e de um meio
ambiente educacional mínimo necessário.
Quando as crianças ficam em casa, seus sintomas
de ST são provavelmente exacerbados, já que existe um menor controle e
elas estão expostas ao tédio de nenhuma diversão fora de casa e
experimenta, freqüentemente, interações ambivalentes ou negativas com
os pais. Uma reação em cadeia pode ser iniciada, na qual sintomas ruins
tornam-se piores e aumentam o isolamento. Muitos adultos com ST
requerem modificações especiais em suas situações de trabalho.
Freqüentemente uma explanação ao empregador sobre as suas necessidades
especiais receberá uma resposta positiva. Flexibilidade, compaixão e
produtividade no local de trabalho podem ser acrescentadas para o
benefício de cada um com intervenções apropriadas para um paciente
muito sintomático ou para um paciente que está tendo dificuldade de
ajuste a um novo medicamento.
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